CRESCEM OS CRENTES E CRESCEM OS PROBLEMAS
Algo vem me intrigando sobre a realidade brasileira: o rápido crescimento da Igreja Evangélica não tem sido acompanhado da redução dos problemas sociais, políticos, econômicos e morais. Algo deve estar errado...
O cristianismo evangélico não apenas conduz a um encontro pessoal com Jesus Cristo, único Senhor e Salvador, chamado de conversão ou novo nascimento, mas também, deve integrar o convertido a uma comunidade de fé, onde deve crescer à imagem de Cristo em santidade, temperamento, caráter, valores e propósitos, e aí ser enviado ao mundo como missionário.
O cristão deve ser sal e luz, ser diferente, reconstruir a cultura. Ser sal e luz implica participação: na família, empresa, comunidade, associações, Estado... para promover o reino de Deus. Ser diferente é fazer diferença, contra os sinais sociais do pecado e do principado das trevas: a porfia, injustiça, desonestidade, mentira, opressão. Em obediência ao seu mandato de reconstrutor da cultura, até o Dia Final, o cristão responde com misericórdia à dor humana e denuncia profeticamente as estruturas do mal.
Assim, um cristianismo genuíno conduz a uma equação direta: quanto maior for o crescimento do número de cristãos em um país, menores serão os seus índices de problemas. Caso contrário, há algo errado, parcial, ou distorcido no conhecimento bíblico, no discernimento pelo Espírito Santo, no aprendizado histórico, no sentido de vida, nos desdobramentos éticos, que incluem o exercício responsável da cidadania.
Uma salvação apenas para o outro mundo, para a alma isolada no templo curtindo a vida privada, batalhando com os anjos, buscando prosperidade insensível e irresponsável mostra que não houve salvação, doutrinação ou santificação. A Igreja não cresceu; inchou, imersa em sua superficialidade e inutilidade. Combatem-se os vícios individuais, mas não se combatem os vícios sociais. As igrejas evangélicas sofrem da ''síndrome de Adão": sem umbigo, não têm passado ou referência histórica. Sem passado não há lição acumulada, nem há futuro.
Se continuarmos assim, mesmo se chegarmos a 100% da população, a corrupção política, as desigualdades, a violência e a imoralidade não diminuirão. Não mudaremos se não quisermos mudar. Os tempos não são fáceis. Há um Império dominando o mundo, impondo uma ideia única, fechando a história, desqualificando as utopias.
Há massificação, desinformação, pressão e tentação em direção ao compremos e curtamos, que amanhã morreremos, ao materialismo prático do consumismo, que separa o templo do tempo, o individualismo e o discipulado. Há louvorzões de baixos conteúdos teológicos; sermões de rasos conteúdos bíblicos; culto-show em vez de liturgia; astros em vez de profetas.
Pr. Robinson Cavalcanti