DEUS É
A frase “Deus é”, diz tudo. Eu uso muito essa frase por absoluta convicção de que, acerca de Deus, não há outro modo melhor de “dizê-Lo”.
Que tenho eu a dizer acerca de Deus, se não que Ele é?
Quando eu era mais jovem ficava lendo as teologias sistemáticas e as dogmáticas e me perguntava: Por que será que eles perdem todo esse tempo falando de Deus ao invés de refletir sobre o homem?
Isto porque, para mim, desde a infância na fé, Deus jamais poderia ou poderá ser objeto de estudo. Deus é para ser conhecido, jamais explicado. Pois no dia em que melhor se o explica, nesse mesmo dia mais se o desconhece.
Ora, o estranho é que quanto mais Ele se revela a você—em você—, menos você tenta explicá-lo, e mais você o conhece.
Parece para mim que toda tentativa de explicar Deus revela a nossa ignorância sobre Deus. Esse “Deus objeto de estudo” é apenas a alma humana; e os “mistérios de Deus” a serem estudados pelo homem, é apenas o inconsciente humano.
Para mim, assim fica mais verdadeiro e mais prático.
Se eu passo a chamar a teologia de uma psicologia dos arquétipos do sagrado no homem, estou em muito melhor caminho do que quando pretendo que os estudos teológicos sejam sobre Deus.
Não! eles não são! Teologia é projeção do homem, apenas isto. Portanto, quem desejar se conhecer melhor um pouco, veja sua própria elaboração teológica, posto que a teologia é apenas a construção de um nicho psicológico no qual colocamos, de modo entronizado, a divindade que nós criamos. Esse é o último altar a ser derrubado!
Ora, o fato de eu ter sido criado à imagem e semelhança de Deus me dá um ponto de percepção de Deus em mim, mas ainda não é o conhecimento de Deus.
Daí a teologia ser apenas uma psicologia que toma os “arquétipos sagrados” e elabora uma “projeção de Deus” como se fosse uma revelação do próprio Deus.
É apenas em mim que eu conheço a Deus, mas não é à partir de mim, posto que a revelação do Deus que é, me silencia justamente porque não é uma elucubração minha.
O Deus elucubrável é apenas a minha psicologia transferida para Deus, pois não tenho coragem de dizer que quando falo Dele, estou, quase sempre, apenas falando de mim.
Assim, eu enxergo melhor a mim mesmo quando eu me pergunto: Como eu sinto e interpreto Deus em mim?
Quando eu respondo sinceramente essa pergunta estou fazendo uma confissão de como eu projeto Deus. Ou seja: de como Deus é sentido à partir de mim. Mas quando eu não tenho nada a responder, estou, pelo silencio, fazendo a confissão que só pode fazer quem conhece a Deus, posto que todo aquele que o conhece sabe Dele apenas como aquele que é. Portanto, para além da discussão!
Ora, esse Deus que é, não agrada, porque não serve aos propósitos da teologia. Isto porque acerca Dele não há comentários a escrever. Esse Deus que é, não está em nenhum processo em-si. Ele é.
É sem dúvida que esse fato de se ter apenas o Deus que é, nos deixe muito desconfortáveis, posto que preferiríamos “um Deus em processo”; e, portanto, aberto para ser moldado por nós.
O Deus que é, todavia, é o Alfa e o Ômega, o Principio e o Fim. Ele é. E se Ele é, o que me cabe é amá-Lo. Não me cabe entendê-Lo. É meu dever crer Nele, não tentar dissecá-Lo.
Ora, esse Deus não estudável é insuportável, pois com Ele tem-se que viver exclusivamente pela fé.
De fato, só existe teologia porque não há conhecimento de Deus. E só existem as dogmáticas e as sistemáticas porque não há fé.
Mas não é a fé que fixa Deus. É Deus quem fixa a fé. Deus não decorre da fé, mas a fé sim, decorre de Deus.
Isto é temor do Senhor. E a intimidade do Senhor é para aqueles que o temem!
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